Brasília - Plenário da Câmara dos Deputados (Wilson Dias/Agência Brasil) FOTO ILUSTRATIVA
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Há um paradoxo no quadro eleitoral de 2018. Se o sistema partidário está em crise, como explicar que nenhum dos candidatos externos a ele – aqueles alcunhados genericamente como “outsiders” – tenha emplacado? A Operação Lava Jato não aniquilaria com os partidos?

Depois de Luciano Huck, o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa desistiu da corrida presidencial, deixando a disputa aberta políticos já conhecidos da população: Jair Bolsonaro, Geraldo Alckmin, Ciro Gomes, Marina Silva, algum nome do PT, outro do MDB (Michel Temer ou Henrique Meirelles) e, quem sabe?, até Rodrigo Maia.

O paradoxo é apenas aparente. Primeiro, porque, embora os candidatos sejam conhecidos, apenas Maia, Temer e Meirelles (que não têm chance alguma) , Alckmin e o petista que vier a substituir Lula podem ser qualificados propriamente como “insiders”. PT, PSDB, DEM e MDB foram atingidos pela Lava Jato, e seus candidatos sofrem as consequências naturais nas pesquisas.

Ciro sempre foi um elétron livre, prestes a despegar do sistema político-planetário. Marina, desde que saiu do PT, corre à margem, fundou um misto de partido e movimento social – e deve seu eleitorado à estratégia de apresentar-se como “terceira via”. O senador Álvaro Dias, que reúne uma preferência expressiva no Sul, tem trajetória semelhante. Bolsonaro, em que pesem seus 27 anos no Congresso, jamais fez parte do núcleo de qualquer sistema político.

Há, portanto, uma categoria intermediária, entre “insider” e “outsider”, que promete obter ampla votação em outubro. Levando em conta as pesquisas, é provável que ao menos um dos nomes citados no parágrafo anterior esteja no segundo turno – Bolsonaro é o favorito a chegar lá.

Outro fator explica a resiliência dos núcleos de poder mais atingidos pela Lava Jato: PT, MDB e PSDB. As regras da eleição favorecem quem já está no poder. Quem tem maior bancada parlamentar recebe mais tempo no horário eleitoral gratuito e uma faita maior dos R$ 2,7 bilhões que o erário destinará à campanha. O fundo eleitoral aprovado no Congresso faz perdurar a atual estrutura partidária.

Eis, aí, uma diferença crucial entre a Operação Mãos Limpas na Itália e a Lava Jato. Enquanto a primeira destruiu os partidos envolvidos nos esquemas de corrupção, a segunda atingiu apenas políticos individualmente – mas preservou a estrutura partidária, com todas as benesses atreladas a ela na campanha acrescidas do fundo bilionário.

“Se o sujeito não quiser enveredar pelo crime nem ser fantoche de milionário entediado que resolve gastar um troco para brincar de renovar a política, o único caminho é submeter-se a algum dono de partido”, resume de modo feliz o analista político Alon Feuerwerker em seu blog.

Candidatos como Marina, Álvaro Dias ou o próprio Bolsonaro só têm viabilidade por ter se submetido às regras e exigências do regime partidário em vigor – algo que nem Joaquim nem Huck souberam ou quiseram fazer.

A reforma política do ano passado era uma oportunidade de endereçar o maior problema levantado pela Lava Jato – a promiscuidade entre partidos e interesses privados. Começou com propostas delirantes, no final se restringiu a resolver duas distorções que prejudicam o sistema: vetou coligações nas eleições proporcionais e impôs um patamar mínimo de votos para que um partido obtenha representação, embora só em 2022. Só no futuro, portanto, as legendas de aluguel estarão ameaçadas.

Em troca, os parlamentares obtiveram a aprovação do fundo eleitoral que, por enquanto, lhes garante sobrevivência política. Para os partidos pequenos, as eleições se transformaram na busca por nomes famosos para puxar votos ou ricos para fornecer recursos que o fundo será incapaz de cobrir. Para os grandes, ficou tudo mais ou menos igual.

Poderá haver alguma depuração na exótica fauna partidária brasileira. Mesmo assim, a estrutura sobreviverá intacta, como tem sobrevivido há anos. Ao contrário do que dão a entender os números divulgados pelo Congresso Nacional, a taxa de renovação parlamentar tem sido irrisória – 4,7% na Câmara e 1,2% no Senado, segundo um levantamento recente realizado pelo jornalista Eduardo Oinegue.

Fonte: G1
Por Helio Gurovitz

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