Baby Futuro, jogadora da seleção brasileira feminina de rúgbi nos Jogos Sul-Americanos Cochabamba 2018. Data: 28.05.2018. Foto: Breno Barros/ rededoesporte.gov.br
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Por Juliano Justo – Repórter da TV Brasil e da Rádio Nacional – São Paulo

O Brasil conseguiu a classificação para o torneio de rugby sevens dos Jogos de Tóquio vencendo o pré-olímpico da modalidade, realizado no Peru em 2019. Essa será a segunda participação olímpica consecutiva das Iaras (como são conhecidas as jogadoras brasileiras de rugby). A versão sevens do esporte (com sete atletas por equipe e partidas com apenas dois tempos de sete minutos) estreou nos Jogos do Rio, em 2016. A outra versão do esporte, com 15 atletas e partidas disputadas em dois tempos de 40 minutos, já figurou nos Jogos de Paris (1900), Londres (1908), Antuérpia (1920) e Paris (1924). A Agência Brasil conversou com uma das pioneiras do esporte no país, a carioca Baby Futuro. A jogadora está na seleção desde 2004 e participou de todo o processo de profissionalização do esporte no Brasil.

Pergunta: Você chegou a falar recentemente que ia se aposentar como atleta após os Jogos de Tóquio. Algo mudou com o adiamento da Olimpíada? Você falou também que seu futuro deve ser trabalhando na base. É isso mesmo?

Baby Futuro: Minha ideia era me aposentar no final desse ano. Não sei se seria logo após os Jogos Olímpicos, porque ainda tenho o Campeonato Brasileiro. Mas a ideia era, depois do final do ano, começar a pendurar as chuteiras. Foi um pouco ruim para mim esse adiamento. Fiquei sem saber o que fazer. Mas também não tenho muitas opções. Estou aqui trancada todo dia e treinando. Vamos aguardar mais um ano e ver. Na verdade, não é nem jogar. É treinar. Aguentar a preparação e o treinamento diário é muito pesado. O corpinho, depois de 21 anos de rugby, já está (…) complicado. Mas vamos ver. A questão de trabalhar com a base é uma opção. É muito difícil se envolver com alguns projetos se você ainda está jogando. Você ainda fica muito comprometida. Mas é uma das ideias trabalhar com o desenvolvimento de atletas novos. Isso tudo se ficar dentro da CBRu (Confederação Brasileira de Rugby).

Pergunta: Como estão os treinamentos nessa quarentena? O pessoal da seleção tem se encontrado?

Resposta: Meus treinos, na quarentena, têm sido bons. Eu moro com meu namorado e mais um outro casal, um amigo da seleção e a namorada. A gente conseguiu alguns equipamentos e aparelhos da seleção. Temos uma barra e anilhas. Conseguimos adaptar bem nossa preparação. Os treinos estão fluindo. Nós temos também reuniões diárias com o pessoal da seleção. Fisioterapia, nutricionista, psicólogo, encontro com o restante do staff. Tudo isso continua acontecendo. Todos os dias da semana, temos algum compromisso envolvendo a seleção brasileira.

Pergunta: São 16 anos vestindo a camisa do Brasil. Qual foi a principal mudança que você viu nesse período?

Resposta: 16 anos de carreira. Acho que a principal mudança nesse período foi o reingresso da modalidade nos Jogos Olímpicos. Depois de 2012, veio a semiprofissionalização da modalidade, que foi uma pressão dos dirigentes das entidades envolvidas com o esporte. Várias coisas importantes para treinarmos e competir em alto nível em todo mundo. A Olimpíada foi essa reviravolta que o rugby precisava.

Pergunta: Você faz parte da Comissão de Atletas do Comitê Olímpico Brasileiro (COB). O trabalho está rendendo bons frutos?

Resposta: Acho que estamos fazendo um bom trabalho. Nunca tivemos uma grande representatividade dentro do COB. Foi nossa geração que começou a mexer os pauzinhos dentro da entidade para que os atletas tivessem mais voz. E, no final das contas, acreditamos que o atleta é o produto final de tudo isso. Os caminhos para essa comunicação fluir são difíceis. Estamos batalhando para os construir. Acredito que estamos tendo sucesso para sermos os porta-vozes dos atletas. A ideia é deixar um legado para os próximos que virão no futuro. Não se sabe também como será o futuro do COB, porque teremos mudanças na forma de votação. Mas isso não é para agora.

Pergunta: Na virada de 2019 para 2020 vocês estavam na Nova Zelândia. Foi a primeira vez que a equipe brasileira passou junta as festas no exterior?

Resposta: Passamos a virada de ano lá na Nova Zelândia. Foi muito legal. Tivemos que nos tornar uma família. Foi uma boa para todo mundo, inclusive para nós como time. Treinamos demais, nos divertimos, conhecemos Hamilton e arredores. Foi uma experiência muito rica. Fizemos amistosos principalmente com China e Rússia. Mas jogamos também com as Blacks Ferns [equipe da Nova Zelândia, que liderava o Circuito Mundial de Sevens antes da paralisação causada pela pandemia de coronavírus]. Foi especial. Ficar 45 dias fora de casa com amigas foi uma viagem bem importante para nós.

Pergunta: A base de vocês nessa viagem foi Hamilton, terra do Reubem Samuel (técnico neozelandês que comanda a equipe de Sevens do Brasil). E, justamente, a sede da quarta etapa do circuito mundial de sevens. Depois vocês partiram para Sidney para a quinta e última etapa antes da parada forçada pelo coronavírus?

Resposta: Foi muito bom tê-lo como uma espécie de cicerone. Abriu portas para as Iaras. Conseguimos usar a academia do estádio de Waikato [cidade local] e os campos da região. Enfim, o cara conhece a cidade. Ele tinha vários contatos. E todo pessoal da seleção da Nova Zelândia também compartilhou momentos legais conosco. Em relação aos resultados, a nossa melhor etapa foi Hamilton também. Mas, sim, Sidney foi demais. Principalmente para mim. Já tinha morado lá há muitos anos. Muitas lembranças boas.

Pergunta: Após algumas entradas e saídas, atualmente, o Brasil está na elite do Circuito Mundial mais uma vez. É fundamental competir com as melhores equipes do mundo para evoluirmos?

Resposta: Estar dentro do circuito mundial é a melhor coisa. Jogar contra a elite do mundo só vai ajudar nosso time. Naturalmente, nós ainda estamos buscando uma colocação melhor entre as seleções tops. Não conseguimos atingir nenhum top oito, nem top dez. Em temporadas anteriores, conseguimos resultados melhores. Porém, acho que todos melhoraram também. Ainda mais em um ano olímpico.

Pergunta: Na América do Sul, são 16 títulos seguidos. No primeiro, lá em 2004, você teve, inclusive, a companhia da sua irmã Cris?

Resposta: Isso! Lá na Venezuela. Tudo era muito novo para nós. Não sabíamos o que iríamos encontrar. Nunca tínhamos enfrentado nenhum time sul-americano. Por isso, foi demais poder jogar, ganhar e entender onde estávamos e onde queríamos ir. Depois partimos para as disputas internacionais. Foi ali que tudo começou. E estar com a minha irmã foi ainda mais importante. Fui jogar rugby por causa dela.

Pergunta: E a emoção de disputar os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro?

Resposta: Foi um sonho. Um sonho que surgiu fazia pouco tempo, em 2012, quando foi oficializada a entrada da modalidade no programa olímpico. Antes disso, não imaginávamos. Não era ao menos um sonho. Quando surgiu essa oportunidade, corri muito atrás. E foi uma satisfação enorme estar lá com minha família, com meus amigos, com meu time. Poder entrar no estádio, passar por aquele túnel, sentir aquela emoção do torcedor brasileiro. Um frio na espinha. Mas também não podia perder o foco. Tinha a parte esportiva. Se estava lá, era porque tinha conseguido a classificação e precisava fazer bonito. Eu era a única do Rio na equipe, e isso tornou ainda mais especial aqueles jogos.

Pergunta: No Rugby XV, as Iaras ainda buscam espaço. Por que é tão difícil para vocês buscar esses resultados já foram conquistados no sevens?

Resposta: O Rugby de XV não existe no Brasil. Foram apenas alguns movimentos que tentamos implantar por aqui em 2008. Outros times um pouco mais tradicionais vêm tentando seguir. Mas precisamos de um calendário para que se torne algo que flua melhor. A World Rugby não investe tanto no XV no Brasil porque jogamos sevens há 25 anos. Mudar de categoria é muito difícil. Estamos tentando. Até abriu-se uma porta para uma repescagem do Campeonato Mundial. Jogamos com a Colômbia, para ver quem jogaria com o Quênia, para ver quem pegaria o perdedor de um dos confrontos da África. Um caminho longo para tentar chegar no Mundial. Resumindo, teve um amistoso no ano passado na Colômbia, e esse jogo desse ano também contra a Colômbia. Essa é a história do XV no Brasil como seleção. Alguns jogadoras até têm um pouco mais de experiência. Morei na Austrália, uma outra menina que esteve na Irlanda, outra que morou nos Estados Unidos. Mas, com certeza, o World Rugby não apoia muito o XV. Até porque a temporada de Sevens já ocupa a metade. Não sei como seria. Mas estamos tentando pelo menos umas duas datas. Estamos tentando.

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